as crianças dormem, mais tarde tem escola, tem labuta
no barraco tá úmido, o cheiro da lama lá fora não dá folga
sem pressa, as madeiras da dormida irão acordar os guris
comida na dispensa é pouca, ainda falta 15 dias pro final do mês
água nas panelas ta pouca, so chega depois de amanhã
comer meu pão, minha mortadela e tomar minha água, hoje o dia será pesado
o chão empoeirado, crespo, meu sapato embaixo da mesa
pego a mochila, foi do meu menino ano passado, mas ja ta bem acabadinha todo dia tá comigo
hora de trampar, o prédio la na sul ta subindo, beijo na Dona
droga, bom dia filho, abri a porta e acordei o mais novo
não adianta limpar meu sapato, essa rua é terra e lama, tá escuro...
subir na vida logo cedo, essa escadaria é imponente
coletivo frio, duro(apenas o primeiro), tão vazio, tanto silêncio, caras cansadas antes mesmo de trabalhar, a luz chegou
o segundo é mais emocionante, a fila na integração não se vê, apenas a multidão
torcer pra pegar o terceiro, sentado? não, isso rola raramente
aperto, o cara alí tá estressado, quer passar mas dizem que não dá, tá muito cheio aqui
duas horas e vinte minutos na rua, já já chego, falta o terceiro
droga pisaram no pezão, desse jeito meu coturno não vai durar muito
chegando no bairro dos bacanas(quase três horas fora de casa), tão bonito, tudo calçado até o cheiro é melhor
por que será?
confraternizar com os camaradas, bater o ponto, a roupa na bolsa, as ferramentas
quem irá morar nesse edifício? sei lá...
o trabalho dignifica o homem, sinto isso, minha pele desgastada, minhas dores, minhas costas...
quarenta e quatro horas semanais na lide mais trinta e seis passeando de busão
saída no ponto, até amanha colegas
minha volta nem conto, horário de pico, estourando de gente cansada
é isso aí, agradeço senhor!
uziel carneiro
Puxa! Enfim consigo comentar esse post. Não por desinteresse - longe de mim! Mas é que ele foi muito denso, sabe? Li e reli ele várias vezes. Cada vez que fazia isso eu pensava nas incontáveis pessoas que passam por isso cada santo dia e isso doia em mim, mas não uma dor de pena, apesar de ainda não saber explicar o que de fato é. Penso nas eleições que se aproximam, penso no teu post, penso na vida das pessoas... um turbilhão se forma na minha mente. Joanas, Josés, Sebastiões, Raimundas, e tantos outros seres que lutam por sua sobrevivência. Engraçado que ao mesmo tempo, nesse turbilhão de pensamentos que eu tive, uma coisa me foi nítida: a que muita gente, apesar das dificuldades, vive muito feliz, sem reclamar. Engraçado que esse teu post me suscitou incontáveis pensamentos e reflexões. Acho que depois eu volto aqui pra conversar mais. Por hora é isso. Bjca!
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